** Data da pubicação 01/10/2022
Os desafios da safra de grãos e tendências de mercado
O mês de setembro marcou o início da semeadura da safra de grãos brasileira 2021/2022, que segundo os dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) deve ter produção recorde. De acordo com a entidade, o volume estimado é de 289,6 milhões de toneladas (+14%), em uma área de 71,4 milhões de hectares (+4%).
Apesar das previsões positivas com relação à produção nacional, o novo ciclo se inicia com algumas preocupações para o setor produtivo, entre elas, as oscilações climáticas, possibilidade de racionamento de energia, aumento no custo de produção, problemas logísticos e elevada variação cambial.
Confira no texto abaixo os principais destaques da entrevista com o Professor Dr. Marcos Fava Neves, especialista em planejamento estratégico do agronegócio, sobre os desafios da safra brasileira de grãos 2021/2022 e uma análise com as principais tendências de mercado.
Os números da safra de grãos 2021/2022
A soja segue como principal destaque da safra de grãos 2021/2022. A produção da oleaginosa está estimada em 141,26 milhões de toneladas (+3,9%), a área também deve crescer (+4%), totalizando 39,91 milhões de hectares. Para o milho, o volume esperado é de 115,96 milhões de toneladas (+33,8%), em uma área total de 20,6 milhões de hectares (+3,9%). Outro destaque é a cultura de algodão, que tem a produção prevista em 2,71 milhões de toneladas (+15,8%), em uma área de 1,55 milhões de hectares (+13,4%).
De modo geral, a área de semeadura da safra de grãos 2021/2022 deve ter alta de 4%, atingindo a marca de 71,4 milhões de hectares. As estimativas mais elevadas da Conab preveem que pode chegar até a 74 milhões de hectares.
Para o Professor Dr. Marcos Fava Neves essa variação deve impactar a cadeia de suprimentos. “Nas últimas duas safras nós expandimos a área cultivada em 5,5 milhões de hectares. Esse aumento expressivo tem gerado um “stress” na cadeia de suprimentos, elevando os custos de produção e ocasionando a falta de produtos. Ou seja, esses fatores impactam diretamente na rentabilidade do negócio”, pondera Neves.
Além disso, Marcos também destaca a preocupação com a capacidade de armazenagem do setor. “Os investimentos em estrutura de armazenagem não cresceram na mesma proporção da capacidade produtiva e isso diminui as chances de armazenar o produto e vende-lo em um momento mais oportuno. Somado a isso, existe o risco de ocorrer uma intensa procura por transporte, encarecendo o preço do frete”, alerta o professor.
Projeções das principais culturas da safra de grãos
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SOJA: produção – 141,26 milhões de t (+3,9%), área – 39,91 milhões ha (4%);
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MILHO: produção – 115,96 milhões de t (+33,8%), área – 39,91 milhões ha (3,9%);
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ALGODÃO – produção – 2,71 milhõe de t (+15,8%), área – 1,55 milhões ha.
Impactos dos riscos climáticos e racionamento de energia
O clima é, sem sombra de dúvidas, uma das principais preocupações do setor produtivo. De acordo com os meteorologistas, o país enfrenta a pior seca dos últimos 90 anos e a escassez de água pode ocasionar no racionamento de energia, prejudicando o desenvolvimento da safra de grãos.
“A restrição do uso de água para a atividade produtiva prejudicaria muito culturas como laranja, café, hortaliças e lavouras de grãos irrigadas. Esperamos que, caso as restrições do uso de água ocorram, eles se iniciem pelo consumidor final para não prejudicar a geração de renda, o que impactaria ainda mais na economia brasileira”, afirma Neves.
O que esperar do mercado ao longo da safra de grãos?
Pelo lado da oferta a safra de grãos norte-americana é o principal componente balizador de preços no mercado internacional. O último relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) (set 2021) indica que a produção nacional de milho deve ser de 380,9 milhões de toneladas (+1,6%). Na soja, a produção deve ser de aproximadamente 120 milhões de toneladas.
No caso da Argentina, outro importante produtor de grãos no mercado mundial, a safra de milho está estimada em 51 milhões de toneladas e a produção de soja em 52 milhões de toneladas.
Segundo Neves aumento na produção mundial de grãos deve pressionar os preços no mercado internacional. “De modo geral, todo o hemisfério sul vai produzir bastante e isso deve derrubar os preços. Acredito que o hemisfério sul terá uma grande safra e o aumento na oferta irá derrubar um pouco os preços”, alerta o especialista.
Já para o lado da demanda a procura chinesa pelos produtos brasileira deve seguir aquecida. “Não vejo riscos de a China reduzir a demanda, pois, como a oferta mundial está apertada caso o país asiático compre mais dos Estados Unidos isso abrirá espaço para o Brasil colocar seus produtos em outros mercados”, finaliza Marcos.
Estimativa da safra de grãos no mercado internacional
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ESTADOS UNIDOS: soja – 120 milhões de toneladas, milho – 380,9 milhões de toneladas ;
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ARGENTINA: soja – 21 milhões de toneladas, milho – 51 milhões de toneladas.