A seca reduz as estimativas da safra de cana 2021/22

por | 19 abr 2021 | Mercado, Notícias | 0 Comentários

Boletim Cana30: resumo de março e os pontos selecionados para abril

Na cana, primeira quinzena de março, a moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul totalizou apenas 1,67 milhão de toneladas, de acordo com dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). O fim do ciclo 2020/21 se aproxima, com uma moagem acumulada de 600,47 milhões de toneladas, 3,02% superior àquela obtida na safra anterior. O mix está em 46,16% para o açúcar e pode alterar apenas algumas casas decimais, visto que faltam os dados dos últimos 15 dias para o fechamento do ciclo. Já o ATR deve consolidar um aumento de 4,3%, já que alcançou 144,97 kg/tonelada contra 138,95 kg/tonelada da safra passada. A Unica estima que, até 15 de abril, 169 usinas devem iniciar sua operação para a próxima safra na região, contra 180 usinas registradas no mesmo período do ano passado.

De acordo com a Datagro, o próximo ciclo (2021/22) deve registrar um processamento de 586 milhões de toneladas, 3,5% inferior ao esperado para o atual ciclo (2020/21), com projeção de moagem de 607 milhões de toneladas. A diminuição da produção está relacionada às chuvas irregulares no Centro-Sul e precipitação 20% inferior à média em São Paulo. Com relação ao ATR, a nova safra da região Centro-Sul deve obter 141,20 kg por toneladas de cana, valor 2,4% inferior ao ciclo 2020/21. Finalmente, o mix deve ser levemente mais açucareiro que o atual, com 46,5% voltado para o adoçante.

A StoneX aponta uma moagem de 586,1 milhões de toneladas de cana (-2,6%) com ATR de 139,7 kg por tonelada, 3,5% inferior a 2020/21 com mix de 46,3% para o açúcar. A Archer estima 574 milhões de toneladas, 4,3% menor, devido ao clima.

Uma análise feita pela Spark Inteligência mostrou que o setor sucroenergético demandou, em 2020, 3,8% a menos em defensivos para a cultura em dólar do que em 2019; foram US$ 1,4 bilhão em produtos. No entanto, os valores em reais apontam um aumento de 7,6% nas vendas, de R$ 5,5 bilhões para R$ 5,9 bilhões. A baixa no resultado em dólar pode ser explicada pela desvalorização da moeda brasileira ao longo de 2020. Entre as categorias de defensivos, os herbicidas representaram 53% do total em 2020; seguido pelos inseticidas, com 39%; dos reguladores de crescimento, com 4%, e dos fungicidas, com 3%.

Um estudo feito pela Esalq-USP mostrou que a conversão de áreas de pastagens degradadas em cultivo de cana-de-açúcar pode remover entre 1 e 2 toneladas de carbono por hectare a mais em um ano, além de contribuir para a recuperação do solo. Segundo os pesquisadores, a conversão de 1% da área de pastagens degradadas no Brasil seria suficiente para aumentar a produção de cana em 20%, fora o incentivo à expansão na oferta de biocombustíveis nos mercados interno e externo. Apenas 0,6% do aumento de áreas para cana-de-açúcar se deu em vegetação nativa nas últimas décadas, enquanto mais de 70% foram em áreas de pastagens.

Outro estudo feito por pesquisadores da Embrapa Territorial (Evaristo de Miranda e Paulo Martinho), aponta que entre 2009 e 2019, a área cultivada com cana-de-açúcar cresceu 14,3% no país. 43 microrregiões respondem por 75% da produção em 2019, o que antes eram 45 microrregiões. São Paulo continua sendo o principal estado produtor, mas perdeu participação para os demais, mesmo com aumento na produção: antes era 56,3% e agora 54,8%. Por outro lado, os cinco maiores estados produtores (SP, MG, PA, GO e AL) ampliaram de 81,9% (2009) para 86,6% da produção total nacional. Por fim, a produtividade teve queda de 4,7% no período, passando de 78,2 para 74,5 toneladas por hectare, em função da descapitalização das usinas nos últimos anos frente às crises enfrentadas pelo setor.

No açúcar, de acordo com a Unica, a produção açucareira da região Centro-Sul alcançou o volume de 38,28 milhões de toneladas, valor que supera o recorde obtido na safra 2017/18 de 35,89 milhões de toneladas, representando ainda um acréscimo de 44,29% em relação ao montante produzido no ciclo passado.

Considerando os últimos doze meses (mar 2020 – fev 2021), as exportações do adoçante brasileiro totalizaram 31,6 milhões de toneladas, crescendo 69,2% frente ao mesmo período anterior. O preço médio, por sua vez, esteve 1,3% inferior.

As usinas brasileiras já fixaram o preço de 85,75% do açúcar a ser exportado no ciclo 2021/22 (dados até fevereiro), segundo estimativa da Archer Consulting. Por sua vez, a Datagro estima que 80% a 82% das exportações já estejam travadas a um preço médio de R$ 1.480 por tonelada. No mesmo período do ano anterior, o volume fixado era de, aproximadamente, 64,7% da safra 2020/21. Dessa forma, as agroindústrias têm aproveitado os preços e adiantado o travamento.

Segundo o Rabobank, a safra 2020/21 deve registrar um déficit de 2,8 milhões de toneladas de açúcar e um superávit de 1,5 milhão de toneladas no ciclo seguinte. Segundo o banco, a Austrália, a Tailândia e a União Europeia devem recuperar suas produções na safra 2021/22. Para o Brasil, a entidade estima uma moagem de 575 milhões de toneladas (-5,0%) e um mix de produção de 47% para o açúcar.

Já a Datagro estima produção de açúcar no Brasil de 36,7 milhões de toneladas para a próxima safra (2021/22), queda de 4,7% frente ao ciclo anterior. A produção do adoçante só não será mais afetada porque um volume considerável de açúcar a ser exportado já está com preços fixados. Com isso, o mix deve ficar em 46,5% para açúcar. Já na perspectiva global, a Datagro projeta uma safra 2020/21 deficitária em 1 milhão de toneladas, enquanto que no próximo ciclo é esperado leve superávit de, aproximadamente, 1 milhão de toneladas.

A estimativa da Archer é de 35,05 milhões de toneladas de açúcar em 2021/22, praticamente 3,3 milhões de toneladas a menos que a safra 20/21. A StoneX projeta 36,1 milhões de toneladas na safra 2021/22, 5,8% menor que a safra anterior, motivada por chuvas 25% abaixo da normalidade para o período.

Um estudo divulgado pela trading inglesa Czarnikow apontou que pode haver um choque de oferta de açúcar no mercado global na safra 2022/23. Segundo a organização, que analisou as próximas cinco safras para o setor, o fato recente da OMC (Organização Mundial do Comércio) contestar os subsídios aplicados pelo governo da Índia, podem levar à redução ou até a extinção da ferramenta. Além disso, o governo indiano tem estimulado a indústria local na instalação de destilarias para produção de etanol, após a aprovação da mistura do biocombustível à gasolina em 10% em 2022 e 20% até 2025.

Ainda no mercado internacional, a maior produtora de açúcar da Europa, a Sudzucker, anunciou lucros operacionais na casa dos 230 milhões de euros, quase que o dobro dos 116 milhões do ano anterior. Recentemente, a empresa havia fechado fábricas na Alemanha, França e Polônia como estratégia para reduzir os custos da companhia.

A Copersucar anunciou a compra integral da Alvean, joint venture formada entre a cooperativa e a Cargill, que lidera o mercado global de açúcar com 20% de participação total. Após a compra dos outros 50%, que está sob avaliação do Cade, a Alvean deve seguir como uma empresa independente e com gestão autônoma, fortalecendo ainda mais o seu negócio com o adoçante. Em 2020, a Copersucar representou 18% de todos os títulos de CBios comercializados, o que foi suficiente para que 3,1 milhões de toneladas de carbono deixassem de ser emitidas na atmosfera; o mesmo que seria assimilado por 22 milhões de árvores.

No etanol, dados consolidados da Unica revelam uma produção de quase 30 bilhões de litros do biocombustível, volume 8,56% inferior ao do ciclo 2019/20. Do volume total produzido, o etanol de milho representou 8,1%, com volume de 2,42 bilhões de litros produzidos a partir do cereal, um aumento de 60,85% em relação ao último ciclo.

A comercialização de etanol pelas usinas da região Centro-Sul alcançou 2,45 bilhões de litros no mês de fevereiro, sendo 93% destinado ao mercado doméstico e 7% para exportações. No mercado doméstico, o anidro vendeu 731,61 milhões de litros, caindo 0,57% frente ao mesmo mês de 2020, enquanto foram vendidos 1,54 bilhão de litros (-0,30%) de hidratado.

As exportações de etanol dos últimos doze meses (mar 2020 – fev 2021) já somam 2,75 bilhões de litros, com crescimento de 42,4% em relação ao período anterior. No entanto, os preços em dólar estão quase 15% inferiores.

Para a safra 2021/22, a Datagro estima produção de etanol em 29,40 bilhões de litros, o que deve evidenciar queda de 4,1% sobre 2020/21. A StoneX projeta a safra 2021/22 em 25,8 bilhões de litros, 7,5% menor que a anterior. Seriam 16,6 bilhões de litros de hidratado, 12% a menos e, no anidro, 9,2 bilhões de litros, 2,1% maior. No total, com o etanol de milho teríamos 29 bilhões de litros.

A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) divulgou as metas de comercialização de CBios para 2021, que será de 24,86 milhões de títulos. Desse total, a BR Distribuidora deve comprar 26,3% (6,55 milhões de títulos), seguida pela Ipiranga, com 19% (4,71 milhões de títulos), e da Raízen, com 17,3% do total (4,3 milhões de títulos). Segundo o MME (Ministério de Minas e Energia), na segunda quinzena de março, 11,3 milhões de títulos de CBios já estavam em negociação na B3, o que representam 46% da meta para o ano. O Renovabio deve ganhar ainda mais força nos próximos anos em vista da regulação de precificação do carbono como commodity global, o que deve acontecer durante a COP-26, na Escócia, em novembro deste ano.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em abril na cadeia da cana:

 

  1. Observar o consumo de etanol hidratado com estes novos preços e a política de isolamento, que reduz o consumo de combustíveis. Ao fechar esta coluna, pelos dados da SCA, o litro do hidratado estava em R$ 2,88/l com impostos nas usinas, e o anidro a R$ 2,65/l. Tivemos grande queda nestes últimos 30 dias;
  2. O barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 62, ficando praticamente estável no mês. Observar seu comportamento agora em abril para saber os preços da gasolina;
  3. O déficit de açúcar: ao fechar a coluna, o açúcar estava em 15,26 cents/libra peso na tela de maio de 2021. O consumo mundial deve aumentar com a vacinação e o crescimento econômico mundial, e a oferta maior deve vir do Brasil mesmo;
  4. Os efeitos do clima sobre o canavial 2021/22, que está muito seco, e deve trazer perdas;
  5. As exportações de açúcar do Brasil, que estão muito fortes, e os preços para o mercado interno que vêm se mantendo.

 

Valor do ATR: No início da safra tivemos algumas quedas no valor do ATR: abril com R$ 0,70/kg; maio com R$ 0,69/kg; junho em R$ 0,68/kg; e julho em R$ 0,676/kg. No entanto, de agosto para cá, observamos um aumento do indicador: agosto em R$ 0,679/kg; setembro em R$ 0,687/kg; outubro com R$ 0,70/kg; novembro com R$ 0,71/kg e dezembro fechando com R$ 0,729/kg. Em janeiro de 2021 tivemos o ATR valendo R$ 0,86/kg, em fevereiro R$ 0,93/kg e, em março, o valor de R$ 1,03. Com isso, chegamos a um acumulado de quase R$ 0,78/kg.

 

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