Doenças do trigo: quais são as principais e como tratá-las?

por | ago 25, 2022 | Canal Digital, Podcast | 0 Comentários

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As doenças do trigo podem causar danos expressivos não só na própria cultura, mas também no bolso do produtor. Levando em consideração as sucessivas altas nos valores do cereal, os prejuízos financeiros podem ser muito elevados.

Por isso, é de extrema importância saber quais são essas doenças, como identificá-las e, ainda, saber quais seus potenciais danos e como controlá-las.

Sabendo da relevância do tema, convidamos Carlos Forcelini, que tem um currículo de peso no assunto. Forcelini é engenheiro agrônomo e já atuou como professor na Universidade de Passo Fundo. Atualmente, ele é consultor e pesquisador na Agrotecno Research.

Quais são as principais doenças do trigo?

De acordo com o professor Carlos Forcelini, com o avanço da triticultura no Brasil, o impacto das doenças pode ser diferente de acordo com a localização.

Dessa forma, em regiões mais frias como no Sul do país, a oídio e as manchas-amarela e marrom são as principais para a parte aérea da cultura.

A Oídio (Blumeria graminis f. sp. tritici) é responsável por reduzir o vigor das plantas de trigo, podendo causar danos de até 60%, se não controlada da forma correta. Segundo o especialista, este patógeno é um dos primeiros a aparecerem no trigo.

Já as manchas-foliares, como a mancha-marrom (Bipolaris sorokiniana) e a mancha-amarela ou mancha-bronzeada-da-folha (Drechslera tritici-repentis) também podem surgir logo no início da cultura.

Com relação à ferrugem-da-folha (Puccinia triticina), Carlos comenta que o nível de perigo é um pouco menor. “Esta doença surge um pouco mais tarde que as outras, quando já estamos manejando contra oídio e as manchas. De certo, modo já estamos prevenindo a ferrugem”, explica.

Quando o foco está sobre as espigas, principalmente na região Sul, é a giberela (Gibberella zeae) que o produtor deve ter atenção. Isso porque, no momento da floração da cultura, os níveis de chuvas nesta localidade são altos, propiciando o aparecimento desta doença do trigo.

Já em regiões com temperaturas amenas, cerca de 25º C, a brusone, causada pelo fungo Pyricularia grisea é uma das principais doenças.

Além disso, Carlos Forcelini traz um dado interessante: “fazemos análises comparativas de áreas tratadas com áreas sem tratamento. Nós temos diferenças de resultados que chegam próximos a 30 sacas por hectare.”

Como identificar essas doenças?

De acordo com o especialista, a identificação das doenças no trigo é mais simplificada. “A oídio geralmente se apresenta em pequenas colônias de cor branca, com uma aparência de mofo na superfície da folha”, complementa.

Já a ferrugem-da-folha, orienta Forcelini, pode ser identificada da mesma forma que a oídio, nas folhas. Todavia, a principal diferença fica na coloração, que ganha tons amarelados, muito próximo à ferrugem.

As manchas-foliares, por sua vez, apresentam lesões de forma elíptica com cores escuras, como marrom ou preto. “Geralmente essas lesões são circundadas por um halo marrom ou amarelado”, explica o especialista.

Já na região das espigas do trigo, a giberela causa danos nas espiguetas. Como esclarecido anteriormente, a transmissão depende de dois fatores: florescimento e tempo chuvoso.

Assim, destaca o pesquisador, as espiguetas infectadas apresentam coloração parda e, posteriormente, a colônia do fungo passa a ter cor salmão. Em seguida, a lesão causada pela giberela passa a ter pontuações pretas.

A brusone, atinge o ráquis para cima. “Muitas vezes vemos a base com as características normais e a parte superior esbranquiçada”, comenta.

Além disso, ao abrir a espigueta atacada, poderão ser identificados lesões escuras no ráquis.

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Folha de trigo com sintomas de ferrugem-da-folha

Saiba como é a disseminação das doenças do trigo

A maior parte dos fungos que atacam o trigo são disseminados pelo vento. “Em um dia ensolarado, os fungos produzem seus esporos e quando chega o vento, eles são transportados para outras lavouras”, complementa Carlos.

Além disso, se houver a presença de umidade no local, os esporos das doenças foliares podem infectar mais facilmente.

No caso do oídio, a disseminação pode ocorrer mesmo com pouca umidade. Isso ocorre porque o fungo capta umidade do ar.

Já as doenças causadas por bactérias, a transmissão ocorre, principalmente, por água. Ou seja, ao realizar a irrigação, a bactéria pode ser transportada de uma folha para outra.

Além dessas, o especialista chama atenção para as viroses. “Uma, chamada VNAC, afeta a parte aérea e é causada pelos pulgões, e outra chamada mosaico do trigo, que ataca o sistema radicular e o transmissor é um protozoário”, complementa.

Como evitar as doenças no plantio de trigo sobre trigo

Muitos produtores de trigo, por diversas razões, optam por realizar o plantio de trigo sobre trigo. Ou seja, não há a rotatividade de culturas na área.

Esta estratégia pode trazer riscos para a manutenção da sanidade da cultura.

Isso ocorre, pois, grande parte dos fungos e bactérias podem sobreviver na palhada.

Uma boa medida para evitar a infecção pelas doenças do trigo é a adoção de sementes resistentes em áreas que não houve o plantio no ano anterior.

“Assim nós limitamos a porta de entrada dessas doenças”, complementa Carlos Forcelini.

No entanto, a realidade, para muitos produtores, é outra. Há casos em que o produtor não dispõe de áreas para a rotação.

Dessa forma, o especialista orienta que deve ser realizada a adoção de cultivares mais resistentes e iniciar a aplicação de fungicidas de forma precoce.

Atenção para as plantas hospedeiras e palhadas

O azevém, planta daninha que pode surgir em diversas áreas, também pode ser hospedeiro para a mancha-amarela.

Com isso, mesmo que o produtor adote a rotação de culturas, também deve se ter atenção para as plantas daninhas.

No caso da giberela, o professor Carlos Forcelini orienta que a palhada de milho também pode possibilitar a manutenção da doença até o início da cultura do trigo na área.

A brusone, por sua vez, pode se manter em gramíneas nativas da região e pode migrar para o trigo. Isso, claro, se houver condições de umidade e temperatura ideais.

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Orientações para tratamento das doenças do trigo

Muitas vezes, os produtores optam por cultivares mais resistentes no planejamento da cultura. Porém, os fungos podem evoluir com muita frequência, o que pode ocasionar a perda dessa resistência.

“Muitas vezes plantamos um cultivar resistente e ao final, colher uma variedade suscetível”, complementa o professor.

Ainda de acordo com Carlos, os cultivares resistentes à ferrugem-da-folha atingiram bons índices de ganho genético para o controle da doença.

Para as demais doenças, como manchas-foliares, oídio e giberela, as sementes podem ser mais suscetíveis as mudanças dos fungos.

Dessa forma, o consultor Carlos Forcelini orienta que a estratégia é complementar a resistência com o controle químico.

Veja mais detalhes das principais doenças do trigo

Ferrugem-da-folha (Puccinia triticina)

A ferrugem-da-folha (Puccinia triticina) pode causar a diminuição da produtividade em até 50%. Seu desenvolvimento ocorre, principalmente, em regiões com mais frias, temperaturas próximas a 20ºC. Para identificar a doença, deve se analisar as folhas, que apresentarão colorações laranjas, como a ferrugem de fato.

Mancha-amarela (Drechslera tritici-repentis)

A mancha-amarela (Drechslera tritici-repentis) causa danos que podem chegar à 48%. Dessa forma, para identificação, basta identificar a lesão de forma elíptica, cor escura e um halo ao redor de tom amarelo. Sua transmissão ocorre pelo ar e o fungo pode sobreviver nos restos da cultura anterior.

Mancha-marrom (Bipolaris sorokiniana)

A mancha-marrom (Bipolaris sorokiniana), é outra importante doença do trigo. Os prejuízos podem chegar a 80%, se não controlada da maneira correta. Ela atinge as folhas do trigo e os sintomas principais para identificação são as lesões ovais escuras. Assim como a mancha-amarela, esta doença pode se desenvolver na palhada da cultura.

Oídio (Blumeria graminis f. sp. tritici)

A oídio (Blumeria graminis f. sp. tritici) reduz o vigor das plantas de trigo. Os danos podem chegar a 60%, se não controlada da melhor forma. Inclusive, a doença, geralmente, é uma das primeiras a ser identificadas na cultura, logo após o plantio. Esta doença do trigo pode ser identificada pela coloração branca nas folhas, como um mofo.

Giberela (Gibberella zeae)

Ao contrário das demais doenças apresentadas anteriormente, a giberela (Gibberella zeae) atinge as espigas. O ataque mais severo ocorre durante o momento de floração aliado às chuvas. As perdas podem chegar a 50%, dependendo da severidade e condições metereológicas. A principal forma de identificar esta doença do trigo é com a descoloração das espiguetas.

Brusone (Pyricularia grisea)

Diferente das demais doenças anteriores, a brusone, causada pelo fungo Pyricularia grisea, é característica de regiões com temperaturas amenas, cerca de 25ºC. O ataque ocorre, principalmente, acima do ráquis. Dessa forma, o sintoma característico desta doença é o branqueamento da espiga. A partir da lesão, os nutrientes para a parte superior ao local.

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