Manejo de doenças de final de ciclo na soja

por | abr 23, 2021 | Canal Digital, Podcast | 0 Comentários

Uso de sementes de qualidade, espaçamento e população de plantas e controle químico ajudam no manejo e na prevenção das DFCs

  ** Data da publicação 26/04/2021 

O manejo de doenças de final de ciclo na soja

por Luis Henrique Carregal - Pesquisador da Agrocarregal | Episódio 24

Principais Destaques

  • O cenário de doenças na safra 2020/21 na cultura da soja

  • O que são as doenças de final de ciclo (DFCs)?

  • Principais sintomas

  • Estratégias de manejo

  • Resultados do fungicida Teburaz

  • Impacto da palha no manejo das DFCs

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O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estimou a safra mundial de soja 2020/21 em 361,82 milhões de toneladas. Para o Brasil, é esperada uma produção de 134 milhões de oleaginosa nquanto os EUA e a Argentina devem produzir, respectivamente, 112,55 e 47,5 milhões de toneladas.

Um dos desafios dos agricultores brasileiros para manter o alto rendimento das lavouras é o manejo das doenças foliares, em especial, as doenças de final de ciclo (DFCs). Embora elas recebem este nome, os sintomas dessas doenças iniciam com apenas 15 dias de semedura e podem causar danos em diversas estruturas reprodutivas da planta, como hastes e sistema radicular.

No episódio 24 do podcast Fala, Agro! conversamos com o pesquisador Luis Henrique Carregal sobre o manejo das doenças de final de ciclo (DFCs), estratégias de controle, interferência da palha e a importância dos fungicidas multissítios no manejo preventivo dessas doenças.

Veja abaixo um resumo dos principais tópicos da entrevista.

O cenário de doenças na safra 2020/21 na cultura da soja

“Tivemos uma  muito boa em algumas regiões, mas também tivemos alguns problemas, como o atraso da chuva, pois, o plantio atrasou em algumas regiões, além disso,  tivemos um stress hídrico durante a safra o que culminou em atraso de pulverizações, ou seja, tivemos algumas características indesejáveis durante essa safra.”

“Em relação às doenças, observamos no oeste goiano que as principais doenças estão relacionadas ao que chamamos de doença final de ciclo (DFCs). Vimos com pesquisadores uma presença menor da ferrugem-asiática, se comparado aos últimos anos e com presença maior das DFCs, como a mancha-parda e crestamento de cercospora. Em algumas regiões, tivemos pressão muito alta de mancha-alvo que, em minha opinião, vai ser a doença mais importante em breve.”

“O Agricultor está um pouco mais ligado às informações e, mesmo que de forma geral, ele tem adotado um manejo de doenças, que servem não só para a ferrugem-asiática, mas para o complexo de doenças da cultura da soja.”

O que são as doenças de final de ciclo (DFCs)?

No Brasil, temos a cultura de utilizar os estudos desenvolvidos no exterior e demoramos um pouco para gerarmos nossos próprios trabalhos. O nome “doença final de ciclo” foi importado do nome “Late-season Foliar Diseases” que são doenças que acontecem no final da safra dos Estados Unidos. Porém, estamos em um país tropical, as coisas funcionam de forma diferente.”

“Nos Estados Unidos, a produção de soja ocorre em grande parte em um período do ano com temperaturas são baixíssimas, porém, isso não acontece aqui. Dessa forma, a dinâmica dessas doenças é diferente. Nos Estados Unidos, essas doenças realmente acontecem no final do ciclo da cultura, no Brasil não.”

“Aqui no Brasil os sintomas dessas doenças iniciam com apenas 15 dias de semeadura. Hoje, em virtude dos casos de resistência, é mais importante esquecermos esse nome (DFCs) e começar a separar em mancha-parda, causada pelo fungo Septoria glycines e o crestamento foliar de cercospora, ou mancha-púrpura da semente, que é causada por outro fungo. Portanto, se conseguirmos separar isso, acredito que nós vamos fazer um manejo mais efetivo.”

“Na mancha-parda, é comum observar nas áreas do sudoeste goiano e em boa parte do Brasil, essa doença se iniciando em torno de 15 a 20 dias após a emergência.”

“Portanto, essas duas doenças – mancha-parda e crestamento de cercospora – são as doenças chamadas de DFCs. A mancha-alvo é uma doença a parte, causada por outro fungo, chamado Corynespora casiicola, e essa doença tem aumentado muito. Uma diferença desta doença para as outras duas citadas é que ele é um fungo que infecta vários hospedeiros, pois possui um espectro de hospedeiros muito maior. No cerrado, onde temos áreas de soja, algodão, e áreas onde plantamos clotalária para manejo de nematoides, temos aumentado muito a pressão de inóculos desse patógeno. É uma doença causada por um patógeno que chamamos de necrotófico, ou seja, sobrevive na matéria orgânica.”

Principais sintomas das doenças de final de ciclo

“A lesão que a mancha-alvo causa parece um alvo. Possui o centro um pouco mais escuro, normalmente com anéis concêntricos, muito semelhante a um alvo, mas tem que se tomar cuidado, pois não são em todas as variedades em que as lesões aparecem dessa forma. Em algumas cultivares, as lesões podem ser menores, mas sempre com um ponto mais escuro no centro e de forma arredondada, isso facilita a diagnose. Se o agricultor pegar uma folha contra o sol, ele conseguirá ver a lesão arredondada.”

“Os sintomas da mancha-alvo não se limitam às folhas, mas em casos de grande severidade, podem ocorrer lesões nos pecíolos, na haste e também no sistema radicular, em casos mais raros, mas que podem acontecer.”

“Quando passamos para a mancha-parda e o crestamento de cercóspora, essas duas doenças geralmente ocorrem ao mesmo tempo, então eu consigo ver na mesma variedade as lesões das duas doenças.”

“Isso não é uma regra, mas as lesões da mancha-parda causadas pela Septoria glycines se localizam mais ao meio do limbo foliar e são lesões que possuem ‘quinas’. Parece que o fungo cresce até a nervura e ele para quando chega nesse local, formando lesões ‘anguladas’.”

“O crestamento de cercóspora normalmente aparece mais nas bordas da folha e com lesões maiores. Apresenta ainda muitos sintomas nas vagens, pecíolos e hastes. Se o agricultor abrir a vagem na fase final ele verá as lesões de tons roxos no grão e assim terá convicção da presença do crestamento de cercóspora e da mancha-púrpura da semente.”

“No sudoeste goiano, há 15 anos, falávamos de cerca de 2 a 3 sacas por hectare de prejuízo. Hoje, dependendo da variedade, temos prejuízo de até 15 sacas por hectare. Nas variedades mais plantadas na nossa região, se não utilizar o tratamento de fungicida, o prejuízo é em torno de 12 sacas por hectare.”

“Tenho um exemplo deste ano em que a área não tratada em comparação à área que recebeu fungicida, totalizou 21 sacas por hectare de prejuízo, algo que eu nunca tinha visto. Tem variedades em que a perda pode ser menor, mas depende do sistema de cultivo e do trabalho do agricultor. Se eu tiver que escolher um número para ficar o mais próximo da realidade brasileira, posso dizer de 10 a 12 sacas por hectare.”

Estretégias de manejo para as doenças de final de ciclo e mancha-alvo

“O primeiro passo é o agricultor identificar as doenças mais importantes da sua região. Muitas vezes ele preocupa em traçar uma estratégia de controle, mas ele não sabe o que ele precisa controlar.”

“Outro ponto que recomendamos é que o produtor saiba o que está ‘acontecendo na fazenda’, ou seja, às vezes conseguimos encontrar diferença de pressão de inóculo por talhão.”

“A primeira estratégia de manejo é trabalhar com sementes de boa qualidade, com boa germinação, boa sanidade e vigor. A segunda é o tratamento de sementes com fungicidas eficientes para que ele não introduza novos problemas em uma área, principalmente quando se inicia um novo talhão ou nova fazenda.”

“Outros pontos fundamentais estão relacionados ao espaçamento e a população de plantas utilizadas na lavoura, seguindo as recomendações técnicas para cada variedade, e a escolha da variedade que ele irá plantar, pois as estratégias de controle químico dependem da variedade da semente.”

“Tenho observado que as melhores estratégias para as doenças causadas por patógenos, seja em plantas, animais ou em humanos, são preventivas ou, no máximo, no primeiro sintoma. Portanto, deve-se traçar um programa de fungicidas, conhecendo os principais ingredientes ativos para as doenças da região e começar a aplicar os produtos de forma preventiva.”

“Normalmente fazemos a primeira aplicação com 25 a 30 dias após a emergência, dependendo da condição da lavoura, e repetimos a aplicação antes do pré-fechamento, ou seja, por volta de 42 a 48 dias após a emergência, não necessariamente do mesmo produto, pois é importante a diversificação dos ingredientes ativos. Depois desta fase, a soja fecha e não se conseguimos mais aplicar o produto no terço inferior da planta. A partir daí, nós seguimos as recomendações das empresas com relação aos intervalos, ou seja, de 14 a 15 dias.

“Geralmente nós terminamos com quatro ou cinco aplicações de fungicidas. É importante o agricultor saber os produtos que ele irá utilizar, com os ingredientes ativos mais efetivos para cada tipo de doença. Outro ponto fundamental é não repetir os ingredientes ativos por mais de duas aplicações, pois cada grupo químico tem um potencial de controle diferente.”

“É importante o uso de fungicidas multissítio, porém há doenças com resistência a alguns ingredientes ativos, como por exemplo: Ferrugem-asiática resistente aos triazóis, estrobilurinas e também carboxamidas; Mancha-alvo resistente às estrobilurinas, benzimidazóis e carboxamidas; Cercospora kikuchi resistente às estrobilurinas.”

Aplicações e resultados com o fungicida Teburaz

“Estamos começando uma parceria interessante com a Ourofino Agrociência a partir desta safra 2020/21, e tivemos a oportunidade de testar o Teburaz e estamos tabulando os resultados.”

“Nós usamos o produto contra mancha-alvo. Escolhemos três variedades com diferentes níveis de suscetibilidade, colocamos o fungicida dentro de um programa, onde há rotação de ingredientes ativos e achamos os resultados muito promissores e estamos bastante satisfeitos.”

Impacto da palha no manejo das DFCs

“Fizemos alguns trabalhos a campo e observamos que, em áreas que conseguimos manter uma cobertura do solo com palhada, nós tínhamos uma proteção mais interessante da planta. Os fungos ficam no resto de cultura da soja, portanto, quando não há palha e iniciam-se as chuvas, o fungo junto com o solo vai parar na haste da planta, nas folhas e nos primeiros trifólios, com o impacto da gota da chuva.”

“Onde não há palhada, a incidência da mancha-parda acontece antes e com mais severidade. No nosso experimento, vimos que na área com palhada, a doença demorou mais para apresentar os primeiros sintomas, com severidade menor e com quase quatro sacas por hectare a mais, devido ao atraso da incidência e por ter uma menor severidade da mancha-parda. Isso pode impactar inclusive no momento da primeira aplicação do fungicida, pois dependendo da palhada, pode-se atrasar um pouco o momento da primeira aplicação.”