Manejo pré e pós-colheita: orientações para manter a sanidade dos cafezais

por | maio 26, 2022 | Canal Digital, Podcast | 0 Comentários

Especialista orienta sobre a forma correta de se realizar o manejo pré e pós-colheita nos cafezais

** Data da publicação 26/05/2022 – Atualizado: 18/12/2023

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Em 2023, a produção de café no Brasil aumentou cerca de 8% referente a 2022, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Somadas, as variedades arábica e conilon atingiram o número de 55,1 milhões. Mesmo em bienalidade negativa, a instituição comenta que a produção foi maior que ao ciclo passado, que enfrentou várias adversidades climáticas.

Para sempre se manter a alta produtividade, o manejo pré e pós-colheita no café é muito importante. Essa medida contribui para que as doenças e pragas não se desenvolvam até o novo florescimento do cafeeiro e surgimento dos novos grãos.

Para falar sobre este assunto e orientar os produtores de café, convidamos Felipe Santinato, engenheiro agrônomo e consultor da Santinato & Santinato Cafés, para o podcast “Fala, Agro!” Acompanhe o episódio e fique por dentro das medidas necessárias para manter a sanidade dos cafezais.

Planejamento para a colheita

A colheita é o momento decisivo da safra. Dessa forma, se preparar e analisar a escolha do modo ideal, mecanizada ou manual, para esse processo é muito importante. Santinato destaca que, neste período, é muito importante levar em consideração a logística, pois se escolhido a colheita manual, o produtor deve estar atento ao prazo para que os frutos não passem do estágio ideal.

“Os frutos ficam ‘cereja’ de 15 a 30 dias, após isso eles começam a secar. Dessa forma, se o mercado do produtor é de grãos cereja, esse é o momento ideal para iniciar a colheita”, comenta Santinato.

Definido o método que será utilizado na colheita, entra outro ponto da logística que é o dimensionamento da estrutura para o momento, como por exemplo a quantidade de maquinário necessário, no caso de colheita mecanizada.

Outro ponto levantado pelo especialista é sobre o café de chão, que, em média, chega a 20% em cada safra, mas há medidas que podem ser tomadas para que o número não avance. “Uma medida é a colheita seletiva, que ocorre apenas no terço superior das plantas, onde os frutos mais maduros e parte dos ‘cerejas’ são colhidos. Assim a quantidade de café caído é reduzida”, complementa.

Sob o ponto de vista das aplicações de defensivos, Santinato orienta que o maquinário e a lavoura devem ser preparados para o momento da colheita. “Possuo áreas com problemas de bactérias e, se não realizar a pulverização na lavoura antes da colheita, a doença se espalhará por toda a lavoura.”

Produção de café em 2023

    • 55,1 mi de sacas de café total beneficiado;

    • 38,9 mi de sacas de café arábica;

    • 16,17 mi de sacas de café conilon;

Fonte: Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)

Maiores estados produtores da café

(Em sacas de café total beneficiado/2023)

    • Minas Gerais, 29 mi;

    • Espírito Santo, 13.014 mi;

    • São Paulo, 5.030 mi;

Fonte: Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)

Impactos da geada e seca nos cafezais

Santinato comenta que as regiões Sudeste e parte do Centro-Oeste sofreram com as geadas. De acordo com as estimativas de sua consultoria, cerca de 300 mil ha sofreram com o fenômeno climático. O tema rendeu até a boletim técnico, que pode ser encontrado no seu site, clicando aqui.

O especialista comenta que algumas áreas foram acompanhadas pela consultoria e necessitaram de cuidados diferentes após a geada. “As lavouras que foram podadas têm seu sistema radicular diminuído, resultando na perda dos micronutrientes, primeiramente.”

Santinato comenta que, hoje, as áreas que tiveram o tratamento necessário encontram-se em melhor estado do que as lavouras não tratadas. Além disso, nas manejadas, o processo de colheita manual é facilitado, pois as partes secas já foram retiradas.

Outro problema apontado são as secas dos dois últimos anos. Com isso, o consultor percebeu a negligência no tratamento de phoma (Phoma spp), pois os produtores acreditavam que a seca inviabilizaria o desenvolvimento do fungo. Na realidade, bastam apenas 24h com condições favoráveis para que ela retorne.

Dessa forma, Santinato destaca a importância de realizar o manejo pós-colheita. “Este manejo é responsável por até 30% da proteção da florada do café. Caso contrário, apenas a pulverização pré-florada pode não cumprir com a proteção esperada.” E complementa que a medida não é apenas para as doenças, como também para pragas, como o bicho-mineiro (Leucoptera coffeella).

Como aplicar de forma assertiva?

Santinato comenta que o controle do bicho-mineiro (Leucoptera coffeella) aumentou consideravelmente com a adoção do “chuveirinho” no aplicador, ou seja, com extensores que atingem a parte mais alta das plantas de café. Dessa forma, a aplicação é realizada “de cima para baixo”.

Além disso, é importante que o pulverizador esteja bem regulado, para que os alvos sejam atingidos com maior exatidão e sem perdas de produto.

Outro ponto importante no momento da aplicação é a verificação do pH da calda. “Estamos estudando sobre qual o valor de pH ideal para que cada planta absorva melhor os produtos. É de suma importância esse acompanhamento”, orienta.

O especialista comenta ainda que a pulverização deve ter grande atenção do cafeicultor, assim como é dado para outros processos. “É muito importante acompanhar o processo de aplicação. Sempre orientamos os produtores para que acompanhem.”

Vivantha para bicho-mineiro e cochonilhas

O inseticida Vivantha, da Ourofino Agrociência, possui registro para a cultura do café. O produto apresenta boa flexibilidade de uso e pode ser associado a outras soluções, o que o torna uma importante ferramenta no manejo estratégico de pragas.

Para o bicho-mineiro (Leucoptera coffeella), deve-se realizar a aplicação após o início do período chuvoso. Já para as cochinilhas-farinhentas (Dysmicoccus texensis), a recomendação é aplicar a partir de julho, a depender do histórico de ataque da praga na região.

Principais pragas dos cafezais

Bicho-mineiro (Leucoptera coffeella)

Santinato comenta que a praga é a principal da cultura. A região do cerrado tem grande presença deste inseto. A proliferação se dá principalmente nos períodos mais secos, entre abril e julho.

Os ataques da praga causam a queda das folhas, o que resulta na diminuição da produtividade. Isso porque a planta perde a capacidade de realizar a fotossíntese, sendo impossível a produção dos grãos de café. Se não controlado, o bicho-mineiro é capaz de comprometer até 80% da produção dos cafezais.

“É importante fazer o manejo preventivo para evitar a infestação, pois a velocidade de reprodução desta praga é muito acelerada e possuem muitas fases, como a de larva e a mariposa.” As aplicações devem ser realizadas constantemente a fim de evitar novas populações, principalmente no pré-colheita, orienta o agrônomo.

Broca do café (Hypothenemus hampei)

Outra praga de importância na cafeicultura é a broca do café (Hypothenemus hampei). Segundo Santinato, esta é uma praga com menor dificuldade para controle e se não espalha com muita facilidade. Porém, as aplicações devem ser realizadas conforme orientado por ele.

As áreas mais propícias para o desenvolvimento da broca são as que se localizam próximas às matas, talhões sombreados e também as plantas onde não foram colhidos todos os frutos. O especialista orienta ainda que os frutos colhidos em áreas com brocas não devem ser colocados no terreiro com outros grãos.

No fim do ano, em dezembro, a consultoria recomenda a primeira aplicação para o controle da praga. Após isso, o especialista orienta mais duas aplicações, uma em janeiro e outra em fevereiro. Isso para evitar que a praga se aloje dentro do fruto e dificulte a aplicação.

Cochonilhas (Dysmicoccus spp.)

Nos cafezais brasileiros, 16 espécies podem ser encontradas. Dessas, sete podem ser localizadas nas raízes e as outras nove espécies se desenvolvem na parte aérea. Todas elas possuem características muito semelhantes, o que dificulta o reconhecimento exato da espécie.

De acordo com o especialista, esta é uma praga difícil de ser controlada. Portanto, o produtor deve estar atento e realizar o manejo preventivamente. As plantas atingidas pela praga apresentam filamentos com “pequenos pelos” brancos. Com o ataque, também pode ser encontrado uma secreção adocicada, onde as formigas também podem ser atraídas. São necessárias duas aplicações e elas devem ser realizadas rapidamente para garantir a proteção esperada.

Esta praga vive em colônias e se alojam dentro das rosetas. Sua alimentação é realizada a partir da sucção da seiva e dos frutos. Em casos extremos, as pragas podem causar a queda de todos os frutos da planta e seca das rosetas.

Ácaros

Os ácaros também merecem a atenção do produtor, pois podem causar danos consideráveis. Entre as espécies, se destacam o ácaro vermelho (Oligonychus ilicis) e o ácaro da mancha anular (Brevipalpus phoenicis). De acordo com o especialista, são necessárias também duas aplicações para que o controle seja como o esperado.

O ácaro vermelho (Oligonychus ilicis) pode ser visto a olho nu e possui coloração avermelhada. Os ataques mais intensos ocorrem no clima seco. A praga se alimenta das folhas das plantas de café. Dessa forma, o crescimento das folhas e o desenvolvimento dos cafeeiros são prejudicados.

Já o ácaro da mancha anular tem seu grau de importância por ser o transmissor da mancha anular, doença que pode causar grande desfolha. O período de intensidade dos ataques ocorre nas épocas mais secas, de abril a setembro. Os danos acontecem tanto nas folhas como nos frutos, os quais podem ser identificados pelas manchas causadas.

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