Ferrugem-asiática: o que é e como fazer o manejo correto

por | dez 19, 2022 | Canal Digital, Podcast | 0 Comentários

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A ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) tira o sono dos produtores brasileiros há mais de 20 anos. Com efeito, a perda de produtividade pode chegar até a 90%, se não manejada da forma correta.

O manejo das doenças, especialmente da ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) é o tema do novo episódio do podcast “Fala, Agro!” da Ourofino Agrociência.

O especialista convidado é Ivan Pedro, engenheiro agrônomo, pesquisador e sócio-proprietário da Proteplan, especializado em pesquisa e consultoria agronômica. Confira os principais trechos da entrevista abaixo.

Características e condições para a ferrugem

A ferrugem-asiática na soja teve seus primeiros casos registrados em 2001 e, desde então, o país registra números altos da doença safra após safra.

De acordo com o Ivan Pedro, uma das causas que possibilitaram a grande disseminação da doença pelas regiões produtoras é a perda da sensibilidade do patógeno aos inseticidas.

“Em termos de potencial de perdas, temos visto em pesquisas e no campo, os danos partirem de 30% e chegarem até a 90%. É uma doença de alto potencial destrutivo”, complementa.

Além dos danos em grande escala, o agrônomo comenta que o controle é difícil, necessitando de uma boa estratégia de manejo.

Onde mais ocorre a ferrugem-asiática?

De acordo com o Consórcio Nacional Antiferrugem, na safra 2022/23, o estado de Paraná foi o estado que mais registrou casos da doença, 83. Porém, no ano anterior, o Mato Grosso liderou o ranking com 262 casos.

A variação das localidades safra após safra ocorre, segundo o consultor, devido a alguns fatores. “Isso está muito ligado ao clima da entressafra nas regiões. Inclusive, as regiões de fronteira com Paraguai e Bolívia também sofrem com os inóculos das doenças, pois o calendário de plantio destes países é diferente do Brasil e não possuem vazio sanitário.”

Outro ponto de destaque que Ivan levanta é a mudança do período de maior ataque. “Temos percebido no Mato Grosso, região onde atuamos, que a ferrugem-asiática tem se tornado uma doença de final de ciclo, onde as condições climáticas já estão mais estabelecidas.”

ferrugem-asiática na soja Fala, Agro Ep42

Além disso, o especialista vai além e comenta que outras regiões que antes não havia destaque sobre a presença da doença, nos últimos ciclos veem os casos aumentarem, como a região do Matopiba, especialmente em semeaduras mais tardias.

Qual a importância do vazio sanitário para o evitar a doença?

O vazio sanitário é uma das principais estratégias para evitar a proliferação da ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi), especialmente nas fases iniciais da cultura.

“O Mato Grosso iniciou com a estratégia e outros estados passaram a aplicar como forma legislativa”, comenta o especialista.

A medida consiste em deixar a área sem plantio de soja ou a manutenção de plantas tigueras ou hospedeiras da doença, para evitar que o inóculo da doença permaneça na área. A área deve permanecer neste estado por 90 dias, de acordo com o calendário para a região.

“A proposta é quebrar a ponte verde do ciclo do fungo e na próxima safra, iniciarmos com poucos inóculos na área. Percebemos ganhos muito positivos com o vazio sanitário”, complementa Pedro.

Somado ao vazio sanitário, outras estratégias devem ser adotadas, como a escolha do cultivar ideal, atentar-se ao calendário de plantio e utilizar os defensivos agrícolas com melhor ação.

Atenção para as outras doenças na soja

Além da ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi), outras doenças também são responsáveis por colocar a produtividade em risco. Ao longo do tempo, o sistema produtivo da soja vem se alterando, para tornar a cultura mais resistente aos desafios, como as doenças, comenta o engenheiro.

“Em razão da ferrugem, muitas ações foram tomadas e passaram pelo melhoramento genético, com ciclos mais curtos, adaptabilidade para a região Centro-Oeste, especialmente para serem resistentes à doença.”

Por outro lado, o especialista diz que as mudanças genéticas tornaram os cultivares mais suscetíveis às manchas-foliares, como a mancha-alvo (Corynespora cassiicola), a cercosporiose (Cercospora spp), septoriose (Septoria spp) e a antracnose (Colletotrichum spp).

“No cenário atual, o produtor deve aprender a manejar o complexo de doenças. Elas estão em praticamente todo o ciclo da soja e possuem variações muito acentuadas em relação a genética, a resistência dos cultivares, ao sistema de cultivo e a palhada.”

Potencial de dano destas doenças:

– Mancha-alvo

Doença de grande importância na cultura da soja, podendo causar perdas de até 20% em cultivares suscetíveis.

– Cercosporiose

O complexo de cercospora, ou seja, causada por mais de um fungo, pode reduzir os ganhos em até 10 sacas por hectare.

– Antracnose

A antracnose ataca todas as fases da planta de soja, desde o vegetativo, quando infectado as sementes. Os danos podem chegar a 20%, se não realizado o manejo correto.

– Septoriose ou mancha-parda

A depender da região, ela pode ser característica do início de ciclo, mas em outras pode estar presente até o final. Os danos podem chegar a 30%, pois o ataque compromete o enchimento dos grãos.

Estratégias para o manejo da ferrugem-asiática e outras doenças

Conhecendo as doenças e seus respectivos potenciais de danos, é o momento de agir e evitar grandes infestações. Para isso, Ivan comenta sobre o “passo a passo” das estratégias para reduzir a influência das doenças na soja.

“Partindo do pressuposto que o produtor seguiu o vazio sanitário corretamente é a hora de seguir as etapas necessárias”, comenta.

A primeira fase, segundo Ivan, é conhecer os cultivares utilizados na área de plantio, sobre o posicionamento correto e a resistência dele para as doenças.

Outro ponto é a época de semeadura, que influencia a dinâmica e o impacto das doenças.

Além disso, é importante posicionar o cultivar com os fungicidas e programa de manejo ideais com base no sistema de cultivo. “Temos cenários onde o sistema de cultivo do produtor é soja-milho, soja-algodão. Sabemos que culturas como o algodão deixam um potencial maior de inóculo para mancha-alvo.”

Identificando esses pontos, pode-se partir para o manejo, com os fungicidas. “É importante estruturar um programa em que as aplicações iniciem em fase vegetativa da soja, logo nos primeiros 25 dias, e a partir disso realizar as aplicações calendarizadas que podem variar conforme a condição climática, o programa de manejo e a tecnologia de aplicação adotada.”

Ainda, o especialista destaca que os fungicidas devem ser utilizados sempre de forma preventiva, antes dos sintomas da doença nas folhas.

Ao final, Ivan complementa que para as estratégias darem um resultado positivo, é importante utilizar a tecnologia de aplicação e as ferramentas ideais de forma correta. “Temos que usar todas as estratégias de modo integrado para tentar reduzir os impactos negativos dessas enfermidades”, finaliza.

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