O uso de práticas incorretas no manejo de resistência tem ocasionado a seleção de populações de insetos resistentes aos principais grupos químicos de moléculas. Esse fator dificulta o controle de pragas em diversas culturas, ocasionando prejuízos econômicos aos agricultores.
No episódio 16 do podcast Fala, Agro! conversamos com o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril obre como aplicar os métodos no manejo de resistência adequados para evitar a seleção de insetos resistentes.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista.
Manejo de resistência no cerrado
“O nosso sistema produtivo ele é bem diversificado, o que é ótimo pensando em otimização de recursos em uma mesma área. Por outro lado, isso tem um custo do ponto de vista da fitossanidade e exige mais intervenções de controle e é nesse ponto que o problema da resistência se agrava. Quando uma área é mal manejada a pressão de seleção para a resistência evolui muito rápido, pois, o inseto tem uma capacidade de adaptação muito elevada. Se o produtor insistir em utilizar sempre produtos de um mesmo grupo químico a resistência de determinadas populações de insetos pode ocorrer de forma muito rápida”.
Estratégias para uso de aplicação sequencial
“Primeiro, é preciso analisar se a aplicação sequencial realmente é necessária. No caso do bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) a aplicação sequencial é necessária. Entretanto, em outros casos como o percevejo, a prática é desnecessária. Ou seja, é preciso ter em mente que a aplicação sequencial pode favorecer o processo de resistência e ,portanto, ela deve ser utilizada quando for realmente necessária”.
“Outro fator importante é que o grupo químico deve ser usado dentro de uma mesma geração do inseto. Por exemplo, um inseto que tem um ciclo de 15 dias para troca de geração é preciso realizar a aplicação sequencial dentro desse período. Ou seja, é importante conhecer a biologia do inseto para ter uma noção de qual é a janela da aplicação sequencial”.
“Eu não vejo como adequado a redução de dose ,pois, na recomendação da bula já tem as especificações de segurança para controle efetivo do alvo”. O uso de sub dose, tecnicamente, não é a melhor escolha
Danos econômicos
“No Brasil, nós não temos dados científicos a respeito do prejuízo econômico que uma população de insetos resistentes pode causar na lavoura. Porém, esse número sem sobra de dúvidas é alto. Uma conta básica que eu costuma fazer é a seguinte: levando em consideração que a área de plantio de soja no Mato Grosso é de aproximadamente 10 milhões de hectares, se tivermos uma falha na aplicação de resistência dá para ter uma ideia da magnitude do prejuízo que a resistência pode causar. Podemos pensar em R$50,00 por hectare vezes 10 milhões de hectares. Com isso, podemos ter uma ideia da importância do manejo de resistência na agricultura.
“Além do gasto do produto, temos ainda a queda de produtividade na lavoura, pois, se a aplicação foi realizada no momento que não era necessário e sem eficácia será preciso uma nova aplicação. Entretanto, já terá ocorrido algum dano na lavoura”.
Ações complementares
“Uma das formas de fazer o manejo de resistência é o Manejo Integrado de Pragas (MIP). Agora, algo que vem antes dos preceitos do MIP é o monitoramento e os níveis de controle. Uma vez que o nível de controle é atingido, ou seja, essa praga precisa ser manejada aí sim eu devo ir para as ferramentas de controle. Nesse sentido, temos o controle químico, controle biológico com o uso de feromônios e plantas resistentes”.
“As vezes o produtor trabalha com tecnologia Bt e utilizada inseticidas, mas isso não significa que ele está realizando o manejo integrado de pragas. Se ele não fez o monitoramento correto e não respeitou nível de controle o simples fato de integrar técnicas não consiste em manejo integrado de pragas. Pois, ele irá realizar várias aplicações, aumentar os custos e pode até intensificar o processo de seleção de insetos resistentes”.