O manejo de pragas e doenças no algodão

por | maio 14, 2021 | Canal Digital, Podcast | 0 Comentários

Consultor fala sobre estratégias de controle das principais pragas e doenças e traça um panorama da safra

  ** Data da publicação 14/05/2021 

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Principais Destaques

  • Panorama da safra de algodão 2020/21

  • Estratégias para o manejo do bicudo-do-algodoeiro

  • Atenção com as lagartas

  • Controle de ramulária e demais doenças

  • Principais sugadores e percevejos

A safra brasileira de algodão 2020/2021 deve ter queda de 17% em comparação com a temporada anterior, totalizando 2,49 milhões de toneladas de algodão em pluma. Os dados são do levantamento da Conab, Companhia Nacional de Abastecimento, que prevê uma área de 1,4 milhões de hectares destinados a semeadura do algodão.

No oeste da Bahia, uma das principais regiões produtoras de algodão, o plantio  foi realizado dentro da janela ideal de semeadura e o clima tem favorecido o desenvolvimento das lavouras. Já no Mato Grosso, maior produtor nacional, o atraso no plantio da soja impactou no planejamento da safra de algodão.

No episódio 25 do podcast Fala, Agro! conversamos com o pesquisador e consultor Luis Henrique Kasuya, da Kasuya Consultoria, sobre o manejo de pragas e doenças no algodão e um panorama atual da safra. Veja abaixo um resumo com os principais temas da entrevista.

Panorama da safra de algodão 2020/2021

“O Brasil chegou a plantar quase um milhão e seiscentos mil hectares na safra passada e nesta baixamos para menos de um milhão e meio, devido ao preço. Como há culturas como a soja e milho que as commodities subiram de preço, o produtor optou por diminuir a área de algodão.”

“O segundo ponto foi o fator climático no Mato Grosso. Houve um atraso no plantio da soja no estado, em função de diminuição das chuvas na fase inicial, consequentemente, isso afetou a cultura seguinte, ou seja, a cultura do algodão ou do milho. Com isso, o produtor teve um atraso, em média, de quase 30 dias para o início do plantio do algodão.”

“Todos esses fatores, para o Mato Grosso, fizeram com que a área fosse diminuída, pois a janela ideal para plantio de algodão era até 20 de janeiro, e esse ano, tem propriedades que avançaram até 10 de fevereiro e outras até mais.”

“Na Bahia, ocorreu um cenário diferente. No estado, o plantio do algodão se inicia a partir de 25 de novembro até 10 de dezembro. O produtor conseguiu plantar dentro desta janela, avançando neste ano até 15 de dezembro, ou seja, plantou-se dentro da época. A Bahia promete uma boa safra neste ano.”

Estratégias para o manejo do bicudo-do-algodoeiro

“O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) é a principal praga da cultura. É um problema que deve ser visto em épocas pós-colheita, entressafra e pré-plantio. Na Bahia, o algodão está com média de 130 a 150 dias, dessa forma, o produtor fará as operações necessárias para diminuir a população de bicudos até a colheita.”

“No Mato Grosso, a cultura está com médias de 70 a 90 dias e está com uma alta pressão alta de bicudos na região, pois quando se chove muito, o controle de bicudo no algodão é dificultado. O combate é feito através da aplicação de inseticidas e ele morre através de contaminação tarsal, ou seja, as patas em contato com o inseticida vai contaminá-lo e levá-lo à morte.”

“No período pós-colheita, por volta de 60 dias antes do plantio, o produtor deve mapear a sua propriedade, colocar armadilhas e monitorar. Se capturar mais que dois bicudos em cada armadilha por semana, ele está na zona vermelha; um bicudo em cada armadilha por semana, ele está na zona amarela. Nós recomendamos que o produtor faça uma aplicação antes mesmo do plantio, pois deve-se diminuir a população de bicudos para não iniciar a cultura com o problema já estabelecido, caso contrário, ele irá aumentar.

Atenção com as lagartas

“Em áreas de refúgio, a principal lagarta é a Helicoverpa armigera, que causa um dano enorme na cultura do algodão. Quando falamos em outras tecnologias, por exemplo a Bollgard II®, com as proteínas Cry1Ac e Cry2Ab2, temos um bom controle da Helicoverpa armigera, mas com alguns problemas na família das Spodopteras, principalmente da Spodoptera frugiperda, que, no lançamento da tecnologia, não era necessário a aplicação de inseticidas para esse problema, mas hoje, a grande maioria das lavouras de quatro até seis aplicações.”

“A única tecnologia que está resistindo a esses problemas são as que possuem a proteína Vip3, que é a tecnologia presente na GLTP e na recente Bollgard III®, ou algumas tecnologias como a WS3. Essas, por enquanto, estão resistindo a Spodoptera frugiperda.”

“É importante dizer que o produtor deve fazer uma área de refúgio, possibilitando o cruzamento de indivíduos susceptíveis e indivíduos resistentes, e com isso, gerar lagartas metade resistentes e metade susceptíveis. Dessa forma, as tecnologias e produtos continuam eficientes.”

O controle de ramulária e demais doeças

“No passado, principalmente em Mato Grosso, houveram muitos problemas com a ramulose (Colletotrichum gossypii), e aproveito para deixar um alerta, pois essa doença tinha desaparecido em 2010, mas há dois anos esse problema voltou. Temos encontrado em Mato Grosso e em algumas regiões de Goiás.”

“A ramularia (Ramularia areola) continua sendo a principal doença do algodão. Materiais considerados sem resistência para a doença na região oeste da Bahia são os produtos que necessitam de oito a nove aplicações. Em Mato Grosso, na região de Campo Novo do Parecis, onde há uma mutação do fungo, chega a ser necessário 14 aplicações, se for uma variedade convencional.”

“Quando digo ‘convencional’, é porque hoje há variedades que chamamos de Ram-1, ou seja, há uma tolerância alta para ramularia. Quando foi lançada a tecnologia Ram-1, fazíamos quatro aplicações, para tratamento também de outras doenças consideradas secundárias, como a alternaria e Pythium e que, se não cuidadas, podem se tornar primárias, como por exemplo, a mancha-alvo que está cada vez mais presente na cultura. E mais recentemente temos a variedade que tem a Ram-1 e Ram-2, que tem grande eficiência contra ramularia (Ramularia areola).”

“Atualmente, na cultura do algodão, vem crescendo a utilização dos fungicidas, como estrobimix, carboxamidas e também protetores. Com isso temos visto produtividades cada vez maiores, mas as estratégias para o manejo de pragas em doenças no algodão, como a ramularia (Ramularia areola) têm que ser muito eficientes.”

Principais sugadores e percevejos

“O tripes (Frankliniella schultzei) tem aumentado muito e tem causado grandes danos se estiver associado ao clima seco na fase inicial se não ocorrer um bom Tratamento de Sementes (TS), ou se este TS estiver terminado. Ele é extremamente sugador de seivas e pode levar até a bifurcação da planta, causando problemas na produtividade.”

“Em segundo lugar vem o pulgão (Aphis gossypii), que está presente em praticamente todo o ciclo da planta, principalmente quando há adubação nitrogenada, ocorrendo a proliferação do sugador, que pode gerar até 10 indivíduos.”

“Há também os ácaros. Em anos mais secos o ácaro rajado (Tetranychus urticae) e em anos mais úmidos, o ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus), que são pragas que têm crescido bastante.”

“Deve-se ter atenção sobre a mosca-branca (Bemisia tabaci). No Mato Grosso, por exemplo, se há colheita de soja com a cultura de algodão já plantada, pode ocorrer grande migração do inseto.”

“Quero alertar também para o percevejo-barriga-verde (Dichelops furcatus), que, principalmente no Mato Grosso, em períodos pós-soja, o inseto entra na planta no momento em que o algodão está muito sensível e faz picadas de prova. Essas picadas de prova possibilitam a entrada de fungos e pode até causar a bifurcação do algodão. Portanto, é muito importante o agricultor entender que essa praga não é só da cultura do milho e está atacando muito o algodão em fase inicial.”