Barter: o que é e como funciona?

por | fev 8, 2021 | Canal Digital, Podcast | 0 Comentários

Ferramentas de trava ajudam agricultor a reduzir os riscos na atividade

  ** Data da publicação 08/02/2021 

Operações de barter: o que é e como funciona?

por Luciano Kamilo - Coordenador de Crédito | Episódio 22

Principais Destaques

 

  • O que é a operação de Barter?

  • Benefícios para a cadeia produtiva

  • Gestão financeira e concessão de crédito 

  • Mudanças no cenário de crédtio agrícola

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O Brasil deve ter produção recorde na safra brasileira de soja 2020/2021, ultrapassando a marca de 132 milhões de toneladas produzidas.

As consultorias de mercado estimam que mais da metade desse volume já foi negociado antecipadamente, reflexo do bom momento dos preços do grão no mercado interno, que foi beneficiado com a valorização do dólar frente ao real. Uma das ferramentas utilizadas pelo mercado para antecipar as vendas é o barter, operação que consiste em uma alterantiva para o pagamento dos insumos.

Nesta entrevista, o Coordenador de Crédito da Ourofino Agrociência, Luciano Kamilo, fala sobre as ferramentas de trava e a importância do barter, como uma alternativa para reduzir os riscos da atividade e melhorar a gestão financeira da atividade.

O que é a operação de barter?

“A palavra Barter, em sua origem, remete à troca. A operação de Barter consiste em uma alternativa para pagamento dos insumos, ou seja, o produtor adquire os insumos pré-plantio e realiza o pagamento com o produto que ele colherá, sendo, por exemplo, algodão, soja ou milho, sem intermediação monetária.”

“Nessa última década nós vimos essas operações crescerem. O Barter surgiu no início dos anos 90 com a participação das Tradings, tendo como propósito de fomentar o antigo termo ‘soja verde’. Essa operação surgiu para dar mais segurança às traders e, com isso, oferecer alternativas para financiar o produtor, principalmente em áreas de expansão no cerrado.”

“No início, isso era muito regionalizado, já nessa última década expandimos essa operação para todo o Brasil, temos participação de produtores desde o Rio Grande do Sul até a região do Mapitoba (ou Matopiba) e o Pará.”

“O Barter envolve, basicamente, três agentes: o produtor, que adquire o insumo; a indústria ou cooperativa, que fornecerá esse insumo; e o interessado pelo produto agrícola, os chamados offtaker, que pode ser, por exemplo, uma cooperativa, indústria de alimentos ou uma granja.”

Benefícios para a cadeia produtiva

“Podemos separar os benefícios por agentes envolvidos. O benefício principal do produtor é a segurança em adquirir o produto. O ideal da operação é que o produtor faça a venda do produto junto com a compra do insumo, dessa forma, ele terá um melhor acesso ao crédito, pois as empresas veem com bons olhos essa operação, além disso, do produtor se proteger em momentos de incertezas, como a volatilidade do mercado, câmbio e dos preços em si.”

“ A indústria ou a empresa que fornecerá o insumo  terá mais segurança em conceder o crédito, mais transparência na relação, além de ter uma data programada para a colheita e recebimento do grão.”

“Por fim, a trading ou indústria de alimentos, que tem interesse e precisa movimentar a sua operação, e com isso, ela consegue se programar para manter a fábrica em funcionamento, as vendas e as exportações.”

Riscos envolvidos no barter

“Em minha opinião, é difícil o produtor acertar o momento de pico de vendas, dessa forma, é necessário fazer a gestão financeira e realizar as vendas cadenciadas, ou seja, vender aos poucos. Porém ele não pode utilizar toda a estimativa de colheita com base nos anos anteriores e fazer a venda toda antecipada, pois ele pode ter um risco de não colher todo o volume.”

“A sugestão é que ele venda até o custo de produção, que, na maioria das vezes, é a parte coberta pelo seguro agrícola.  Caso o produtor tenha alguma intempérie e colha abaixo do esperado, o seguro pode cobrir e ele não terá o risco de fazer uma operação de Washout, ou seja, recomprar a posição com o preço atual, pois o comprador estava esperando o volume que foi vendido a ele.”

“O produtor precisa conhecer seu custo de produção e se programar para a próxima safra e isso envolve a gestão financeira do negócio. Quanto custará a colheita, a compra e a aplicação de defensivos, a mão de obra e o frete para saber, de fato, quanto ele gasta para produzir, após isso ele pode ir ao mercado e utilizar as ferramentas.”

Gestão financeira e concessão de crédito

“A relação com o mercado externo desvalorizou a moeda brasileira, e, consequentemente, valorizou o dólar, e isso ajudou muito. Temos também alguns produtos com a demanda aquecida, a da soja, e também a demanda de milho, principalmente pelo uso para etanol, que favoreceram as commodities.”

“Esse momento facilita a abertura de crédito. É uma boa época tanto para o setor sucroalcooleiro, como para os cotonicultores e também para os produtores de grãos. Mas, como já dito, esse bom momento tem seus riscos, muita coisa pode mudar nos mercados externo e interno, além dos riscos climáticos.”

“A análise de crédito baseia-se no potencial de produção e sua alavancagem no mercado. O bom momento facilita o produtor a aumentar sua área agrícola, adquirindo novas terras, porém isso pode trazer o risco de aumento de novos endividamentos.”

“É importante analisar o potencial de produção, se a área em que o produtor está cultivando é uma área com histórico de investimentos ou se é uma área nova e estimar a alavancagem que o produtor tem no mercado, verificando em bancos, indústrias locais ou outros fornecedores que o produtor tenha.”

“Outro ponto importante é a transparência, o produtor precisa antecipar ao seu fornecedor se ele estiver com algum problema, isso é muito bem-vindo no mercado, pois a indústria quer vender novamente nos próximos anos, então é importante manter a transparência entre as duas partes e assim a operação seguir por vários anos.”

Mudanças no cenário de crédtio agrícola

“Estamos vivendo uma segunda etapa no crédito para o agro. No início, com a ‘soja verde’, o maior financiador da época era o Banco do Brasil, que inclusive foi uma iniciativa do deles em produzir um documento de proteção à operação, onde se deu o primeiro passo para a criação de uma CPR (Cédula de Produto Rural), quando em 1994 foi publicada a lei de CPR.”

“Isso é interessante, pois abre o agro para o mercado de capitais e facilita a entrada de investidores externos. Isso vem se aperfeiçoando, pois antes tínhamos as operações de ‘soja verde’ e o Barter, hoje temos empresas fomentando operações de CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), FIDIC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) e CDCA (Certificado de Crédito do Agronegócio) e isso tem facilitado a permanência do agro no mercado de capitais.”

“Começou a vigorar neste ano a lei 13.986/2020, conhecida como lei do agro. Atualmente ainda temos uma carência para operações menores, mas as operações acima de um milhão de reais precisam se adequar à nova lei e isso trará muita transparência e facilidade para o mercado.”

“Vemos que o Governo tem reduzido a questão dos créditos subsidiados, principalmente para os grandes e médios produtores, sabemos que o crédito ainda existirá para os pequenos produtores, pois é importante que ele exista. É vantajoso que se tenha a entrada da iniciativa privada, proporcionando uma maior segurança e transparência nas negociações.”

Principais desafios da cadeia de suprimentos para 2021

“O novo coronavírus começou na China e veio impactando o mundo em ondas e para nós isso ainda não acabou. Todos nós temos esperança, mas trabalhamos com o presente, e, hoje, o cenário ainda é muito complicado para a cadeia de suprimentos no setor de agroquímicos.”

“A partir de outubro de 2020 nós começamos a sentir os impactos do novo coronavírus, pois, até aquela época o mundo estava parado e sem um alto consumo. A partir de outubro, quando as empresas voltaram e começaram as movimentações econômicas, os estoques foram consumidos e necessitou-se a reposição desses estoques, porém o mundo não estava preparado para essa alta demanda.”

“Hoje temos falta de matéria-prima básica, como madeira para pallets, papelão e polietileno para as bombonas. Nós temos contratos com os nossos fornecedores, porém entendemos a dificuldade deles. Sem o pallet nós não conseguimos terminar a operação e sem as bombonas nós não conseguimos envazar os produtos.”

“Estamos trabalhando junto com os nossos fornecedores, é uma parceira, porque o fornecedor também traz essas informações. Isso é um problema da cadeia como um todo. A China também passa pelos mesmos problemas, pois falta matéria-prima básica para produzir o intermediário e o ativo.”

“Temos também o problema da variação cambial, que é um problema de ordem econômica do Brasil que interfere diretamente nos nossos negócios, pois todos os nossos ativos são importados. Nós precisamos comprar os produtos em dólar, importamos a matéria-prima e fazemos a nacionalização. De um dia para o outro nós sentimos o impacto da moeda e isso é algo fora do nosso controle.”

“O ano de 2021, sob o meu ponto de vista, ainda será um ano de dificuldades com relação ao fornecimento de matérias-primas para cadeia produtiva de agroquímicos como um todo. As matérias-primas nacionais também dependem de insumos importados, dessa forma os impactos vêm em forma de aumento, e o dólar reflete isso. A grande produção e até a falta de matéria-prima ocasionam esses aumentos. Estamos tentando negociar, mas está muito difícil até para os nossos fornecedores.”

“É muito importante entendermos tanto o ponto de vista do cliente, como o do fornecedor, para que, juntos, sigamos nessa melhoria contínua em benefício do nosso cliente que necessita do produto na melhor condição e qualidade.”